O Lagarto Teiú
No sitio chamado Paraíso era tudo magia, as aves, os bichos, os répteis, se entendiam porque falavam a mesma língua.
Os galos namoravam as galinhas e, quando elas queriam botar, procuravam lugar para construírem os ninhos que, na cabecinha delas, podiam botar e chocar com segurança porque estavam bem escondidas. O curruíra escolheu um sapatão que estava pendurado na parede do rancho, o beija-flor achou um cordão pendurado na estronca (trave de madeira que sustenta o telhado) e teceu na ponta o minúsculo ninho.
Um casal de mastins dentes de aço guardavam o sitio. Dona Joana, a tia Alice, a velhinha (enrugadinha), a Lurdinha, (queima lata) era a cozinheira e o tio Teléco-Téco era os moradores humanos do sitio.
Lá do lado do poente cerca de meia légua, rolavam as águas do Riacho Doce, e era lá que vivia o Lagarto Teiú.
O planalto era coberto pelo cerrado, tinha alimento para todos. Um dia vieram homens com máquinas, limparam tudo e em seguida plantaram cana. Os bichos ficaram sem comida.
O Teiú sabia que no Sitio Paraíso tinha abundância de ovos e pintinhos. O sitio era bem vigiado e se ele fosse pego roubando ia dar se mal, mas se for para morrer de fome era melhor se arriscar e morrer de barriga cheia.
Não pensou duas vezes, atravessou o córrego e rumou para o sitio. Apesar de ele estar protegido por um muro alto, impossível para o lagarto pular, tinha um portão de aço e, entre o portão e a terra, espaço suficiente para o lagarto passar.
Teiú partiu a noite seguindo uma trilha feita pelo pisar do gado, seu rabo comprido sulcava a areia deixando um rasto bem visível. Chegou ao pé do muro no lusco-fusco da madrugada, rodeou o muro procurando um lugar para entrar, achou o portão, espiou e viu o vulto de uma galinha cobrindo o ninho com as asas. Era o que ele procurava: saborosos ovos com pintinho nascendo.
A galinha, chamada Clotilde, passara a noite sem dormir, estava ansiosa porque ouvira o pintinho picando a casca, mas foi vencida pelo sono de dormiu. O Teiú se aproximou devagarzinho, pegou um ovo e voltou para fora do portão, escondendo-se no mato. A fome era tanta que engoliu o ovo com pintinho de um gole.
Clotilde acordou assustada, teve um pesadelo. Levantou as asas e contou os ovos! Faltava um! Começou a gritar "socorro, socorro... roubaram-me um ovo!” Acordou toda a galinhada, até o pato Fernando, a pata Qua-qua vieram saber do que se tratava, Clotilde aos soluços explicava, sumiu um ovo que já estava saindo o pintinho.
A tia Joana abriu o portão e as galinhas saíram á procura o ladrão. A galinha garnisé, chamada Miudinha, vendo debaixo de uma moita de capim a ponta do rabo do Teiú, pôs-se a gritar e com a aponta da asa mostrou o dito cujo.
O galão amarelão chamado Brucutu, pulou no meio do rabo do lagarto envolvendo-o com suas poderosas garras, os demais e trataram de arrastar o ladrão para um lugar limpo, o viraram de barriga para cima e fizeram cócegas. Assustado o lagarto ficou sério, mas, não resistindo as cócegas, pôs-se a gargalhar até regurgitar o pintinho que, ao sair pela boca do dragão, correu para debaixo das asas da mãe.
Fizeram o Teiú jurar que nunca mais se aproximaria do sitio. O Lagarto Teiú jurou de pés junto que ia cumprir a promessa, foi solto e fugiu correndo desajeitado, torcendo-se todo.
Colocaram o pintinho ressuscitado nas costa do Brucutu e a volta dos heróis para dentro do sitio foi festejada com grande alarido. O galinho chamado de Falante subiu no poleiro tomando pose de orador saudou os heróis que salvaram o pintinho.
Os patinhos parecem garrafinha plástica de refrigerante deitada quando estão com o papinho vazio e as perninhas ficam retas. Quando os papinhos estão cheio as pernas se dobram para manter o centro de gravidade, equilibrando assim o corpinho que vai gangorreando sem inclinar de vez.
Eles também entraram na festa iniciando a dança dos patos (ou dos cisnes) de Tchaikovsky)
Natan, 02/01/2012